quarta-feira, 8 de março de 2017

"Histórias de Amor e Morte" de Luiz Del Nero Netto

Qual não foi minha surpresa, quando uma professora me falou sobre esse escritor. Luiz Del Nero Netto, o “Netinho”. Colunista e jornalista do Jornal O Ouvidor. Até mesmo na parte de trás de seu livro ele escrevia que era “o último dos jornalistas boêmios”. Ou seja, aqueles que muitas vezes escreviam suas pautas em uma mesa de bar. Mas era muito meticuloso.
Prova disso está em uma história que ouvi do próprio Roberto Drummond Melo Silva sobre o autor. Segundo ele ocorreu o seguinte: em certa época, ele teria ido até uma empresa, ao qual viu uma propaganda que estava escrita de forma errada. Ou seja, saindo dos parâmetros da gramática. Luiz tinha uma conversa tão agradável que foi chamado para a empresa, e subiu postos até a diretoria de empresas multinacionais.
Seu livro Histórias de Amor e Morte é a coletânea de histórias publicadas por ele ao longo de dois anos. Com histórias inspiradas pelo povo, pelo imaginário ou de páginas de jornais de sua época como jornalista, mostrando os duros limites entre o amor e o ódio.
Foi publicado pela Editora Jornalística de Igaratá (a mesma do Jornal O Ouvidor). Com capa feita pelas mãos do artista Sandro Camargo e prefácio do próprio Roberto Drumond Melo Silva, seu antigo colega. Contêm só 80 páginas.
A seguir uma das histórias da obra, O casamento:
“Tinha começado na difícil “vida fácil” aos dezoitos anos. Aos vinte e três, já com boa experiência e algum dinheiro guardado, começou a pensar em deixar o bordel. Então, ele apareceu. Boa pinta, alto, forte, moreno, bem proporcionado de peso e muito simpático, tinha até um bom emprego. No começo pagava. Depois ela começou a “ir no amor”. Afinal era gentil, diferente dos demais. Levou-a para passear, distrair-se e cobriu-a de atenções. Deixou-se seduzir impulsionada pela carência que
tinha um apoio forte, de conviver com alguém que visse nela algo mais que apenas mercadoria que se pode comprar, quando se tem necessidade de sexo. Desenvolveu por ele uma fantasia de namorada. Começou a sonhar com vestido de noiva, altar e música de casamento. Foi então que ele propôs. Quase morreu de emoção. Juntaram o dinheiro de ambos, alugaram casa, mobiliaram-na e se casaram. Como nos romances para mocinhas de antigamente.
Dois meses após, chegou em casa com um amigo. Ela serviu “drinks” e correu para melhorar o jantar. Estava na cozinha aumentando a salada, quando ele entrou. “Não se preocupe – disse. O Alberto não veio aqui para isso”.
“Uai! Veio então para o que?” perguntou surpresa.
“Para ficar com você”.
Gaguejou, quis falar mas ele não permitiu.
“Olha. Vou sair e volto daqui a duas horas. Cuida bem do homem que até já pagou. Se quando eu voltar ele se queixar, te arrebento na porrada”.
Ficou estatelada. Ele saiu.

No dia seguinte, o mais novo cafetão da praça pediu demissão no bando, onde era caixa.”

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